Há algum tempo a Chery ensaia o lançamento do QQ no mercado brasileiro. No final de 2009 já falávamos inclusive do preço do compacto, que de lá pra cá aumentou R$ 90. No entanto, a marca chinesa estreou por aqui com o SUV compacto Tiggo, porque “não era hora do QQ no Brasil”, segundo Luis Curi, presidente da Chery. Em abril de 2011, enfim, chega a hora do chinês de cara simpática desembarcar por aqui, atraído pela “nova classe média, a antiga C”, de acordo com as palavras de Curi.
Como todo chinês, o QQ quer atrair compradores por oferecer extensa lista de equipamentos casada com preço inferior ao dos concorrentes, mesmo em suas configurações básicas. E no caso do estreante, há um argumento a mais: custando R$ 22.990, o QQ se torna o carro mais barato do Brasil. Oficialmente, mas não na prática: em uma breve pesquisa entre concessionárias da Fiat, chegamos a encontrar o Mille por R$ 21.990, que na tabela custa R$ 23.220.
Entre os principais equipamentos, estão acionamento interno para abertura do tanque de combustível e do porta-malas, ajuste de altura do banco do motorista, alarme, ar-condicionado, CD player com MP3 e entrada USB, direção hidráulica, limpador e desembaçador traseiro, painel digital, rack de teto, regulagem de altura do farol, travamento das portas à distância e fechamento automático dos vidros, trio elétrico, airbag duplo e ABS.
Impressões
Como mágica não existe, o QQ tinha de abrir mão de alguma coisa para chegar (lembrando que ele é importado da China, portanto paga 35% de taxa de importação) tão equipado e barato. Antes de entrar no carro, já desconfiamos de onde está o segredo. Capô e faróis não casam perfeitamente, e é possível encaixar um dedo entre eles; as borrachas de vedação estão para fora da porta, e não encaixadas entre elas e a carroceria. No interior, fui direto para o banco de trás conferir os encostos de cabeça, lembrando da bizarra costura da mesma peça no Face. E elas estavam do mesmo jeito: frágeis e desalinhas. O espaço é escasso, mas aceitável para a proposta do carrinho.
Pulo pra frente com o Effa M100 na cabeça, que até hoje me dá pesadelos. A posição de guiar e o acabamento são melhores em relação ao conterrâneo. O tecido dos bancos, que são cansativamente macios, são agradáveis ao toque. O mesmo tecido se encontra na porta, contrastando com um plástico duro e ruim de ver e tocar. O painel tem lá seu charme hi-tech, mas o arco que abriga as luzes-espia é cafona.
Executivos da marca valorizam o QQ afirmando que o compacto é constituído por peças vindas do mesmos fornecedores de Chevrolet, Ford, VW, Fiat...Pode até ser, mas a montagem é drasticamente inferior.
Em movimento, o QQ mostra seu pior lado, e nos faz repensar a vantagem da interessante oferta de equipamentos. O problema não é o desempenho do motor 1.1 16V, de 68 cv; ou os engates razoavelmente bons. O compacto da Chery tem a suspensão extremamente (e perigosamente) macia, aniquilando qualquer resquício de segurança nas curvas. Numa avenida do Rio de Janeiro, rodando 10 km/h abaixo dos 90 km/h permitidos pela via, a carroceria inclinava assustadoramente, mesmo a curva sendo aberta. Um motociclista que vinha atrás do nosso carro, teve a preocupação de emparelhar, abrir a viseira do capacete e alertar: “cara, vai mais devagar na curva, seu carro tá inclinando demais, você vai rodar”. Oras, eu já estava abaixo da velocidade permitida e a curva era nível 0 de dificuldade. Ou a Chery reforça a suspensão, ou instala um limitador de velocidade no carro – sem brincadeira.
A proposta do QQ, no entanto, não deixa de se interessante. Até o preço das revisões é mais barato: R$ 99 (2.500 km), R$ 149 (10.000 km), R$ 199 (20.000 km), R$ 149 (40.000 km). E a garantia é de três anos. Os rivais considerados pela Chery são Chevrolet Celta (R$ 26.115), Ford Ka (R$ 25.420), Volkswagen Gol G4 (R$ 26.160) e o já citado Fiat Mille. Curiosamente, a marca não considera o Effa M100. Desperdício, porque seria uma grande chance do QQ parecer melhor do que realmente é.